O tal do Orgulho



Nem sei como me tomou parte. Quando dei por mim, simplesmente não controlava meus pensamentos, meu coração sempre quis dizer algo, porém minha mente recusava a aceitar tal decisão. Minha boca não salivava, meus olhos vidravam e nenhuma palavra podia ser dita.
Isso é tão errado, eu mesmo me bloqueio, tenho medo de arriscar, de perder algo que eu ainda nem conquistei. O assunto era sempre vida, cotidiano, alguns segredos e confidências, detalhes de infância e gostos peculiares, surgia de tudo, uma maquiagem criada por mim e por ele.
Porém o inconsciente não deixava de perceber que um novo sentimento era criado, surgindo em seus mínimos detalhes, em cada telefonema longo durante a madrugada.
E perdurou por um bom tempo essa mesma situação, e até com cobranças sem sentido, por que não havia compromisso com nenhum de nós, sabíamos, mas o sentimento de posse tomava conta.
Em um sábado, numa noite, no sofá da casa de uma amiga. Aconteceu o que nem consigo descrever ao certo. É simples de dizer, uma ação normal e supernatural quando rola química entre duas pessoas. Um beijo. O que esperei muito tempo pra acontecer. É clichê, eu sei, mas pra quem sente algo mais forte que amizade e não chega nem perto de tesão, é surreal. Fato, foi a melhor noite que poderia ter. E só.
Depois disso o comportamento mudou, a ação de ignorar tomou posse. Há sempre alguma coisa no caminho, no meu caminho era meu orgulho. No caminho dele, talvez poderia ser o passado. E ficou assim até nos esclarecermos, demorou um pouco, culpo meu orgulho, mas enfim, fazer o quê?
Resolvemos então o que nos impedia de conviver em harmonia. Opinião e objetivos de ambos estavam em seus conformes. Nosso diálogo retornou a sua maquiagem inicial, ruim de certo modo, por que nada era dito, como se nada tivesse acontecido entre nós há um tempo. Temos contato, sintonia, humor, paciência, mas não criamos coragem de nos aceitar. E sempre retorno ao domínio total o orgulho de não ceder.
É a vida.
Eu simplesmente tenho medo de não estar com ele pra sempre!

Por quê?



E ele entrou. Camisa branca de algodão, cabeça raspada e uma caixa de madeira com um pouco de tinta amarela sob o ombro direito. Arrastando os pés no chão, com um chinelo de cor inidentificável, foi em uma mesa vazia, e pegou um pedaço de carne, a mesma carne que também tinha no meu prato. Despejou o restante do refrigerante escuro dentro de um copo e perguntou ao garçom algo que não consegui compreender. Obtendo a resposta, saiu.
Observei o fato de todos que ali se encontravam entreolharem e quererem saber o que aconteceu. Nem eu ao certo sabia. E voltamos ao que fazia.
Passado um tempo, ele voltou, foi ao balcão, disse algo que não entendi, foi em uma mesa, e disse:
“Moço, me dá um pouco de refrigerante?”. O cara olhou pra ele, para o refrigerante escuro, pra mulher na sua frente e disse: “Se eu te der, você vai embora!”. E o cara encheu o seu copo.
No período que decorreu essa cena fiquei em observar o rapaz de camisa branca e cabeça raspada, só que não era um rapaz, olhei seu tórax e por de trás do tecido branco de algodão havia um volume de um par de medianos seios. Ele na verdade, era ela. E ela saiu.
Deixei os talheres sob o prato e pensei em qual motivo levaria ela a se tornar ele, e porque ele estava na rua, e até mesmo como uma caixa de engraxar sapatos não era o suficiente para alimentá-lo. Mas são respostas de uma mesma pergunta que se dá para várias pessoas dessa cidade e do mundo inteiro. Por quê?

Cabeças Brancas


Sexta, 08h45min, uma manhã completamente normal, igual às quatro antecessoras dessa semana. Mas por um motivo que não sei ao certo, olhei além do que via. Várias cabeças brancas a minha frente. Várias cabeças brancas com fios em tom de neve.

De onde eu estava não conseguia ver seus semblantes, mas ainda assim, imaginava ser como gotas de orvalho, serenos, estáveis, e a aclamar o sol que tocava suas faces.

Cabeças brancas, o tempo fez um bom trabalho, suas experiências são impostas como coras de marfim. Mas lá no fundo, o meu eu tem muito medo de encarar essa realidade de que um dia serei eu o coroado pelo tempo, explícito em todo o meu exterior. Marcas na minha epiderme que não poderão ser como antes.

E que assim seja, o tempo chegue, o tempo passe, e que a cada dia minha coroa seja mais transparente.

to esquecendo das datas

17/08/2011

"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar." (William Shakespeare)

180°

Filmes brasileiros nem sempre são bem vistos no exterior, e até mesmo no  nosso país (eu ao contrário tenho orgulho de algumas produções). Porém a indústria cinematográfica brasileira vem investindo cada vez mais em produções para roteiros fantásticos. O filme “180º”, ganhador do júri popular do Festival de Gramado de 2010, conquistou  público e crítica do 15º Brazilian Film Festival de Miami, levando os prêmios de melhor roteiro para Claudia Mattos e de melhor direção para Eduardo Vaisman. O filme, estrelado por Eduardo Moscovis, Malu Galli e Felipe Abib, estreia dia 16/9 no Rio e em São Paulo. No entanto, continua a percorrer o circuito de festivais: “180º” será exibido nos Festivais de Londres e Isla Margarita em outubro deste ano. O filme conta a história de três jornalistas que se envolvem em um triângulo amoroso e na disputa pela  autoria de um best seller.
180º conta a história de Anna, Russell e Bernardo, três personagens da classe média carioca. Eles apostam tudo o que têm num arriscado jogo de paixões, que envolve a autoria de um livro de sucesso. Sua narrativa não-linear convida o espectador a montar um intrincado quebra-cabeças, cuja solução está tanto no presente quanto no passado dos personagens.

Filmado no Rio de Janeiro, 180º é um drama universal sobre as ambições e os relacionamentos humanos. Nesta história, não há heróis ou vilões; somente pessoas de carne, osso e, principalmente, sangue. Seus personagens têm mais defeitos do que qualidades e tomam decisões aparentemente insignificantes que têm o poder de provocar uma tragédia.

Fonte: CINEMA

11/08/11

"Há labirintos que se percorrem para matar o tempo; outros há que se percorrem porque o tempo nos quer matar".